A.N.R Logística e Negócios Sustentáveis

Consolidação na siderurgia

   Consolidação na siderurgia deve ser algo pontual.

   postado em 06/03/2017

 

   A crise global do aço, seus efeitos no mercado interno e a fraca demanda no Brasil em decorrência da recessão econômica finalmente inauguraram um capítulo de consolidação mais aparente na siderurgia nacional. A primeira grande transação do setor, a união dos ativos de aços longos de Votorantim e ArcelorMittal, foi acertada no fim do mês passado. Para fontes, é possível que mais operações sejam realizadas, mas pontualmente.

   Segundo um especialista do setor, que não quis se identificar, é no segmento de longos que reside o maior potencial de fusões e aquisições, como foi o caso com Arcelor e Votorantim. Entre as fabricantes de planos, o mercado já está bem delimitado, com Usiminas na liderança, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em segundo lugar e a própria Arcelor em terceiro.

   "No caso da Usiminas, não há caixa disponível nem entendimento dos controladores para realizar uma operação do tipo", aposta a fonte. "A CSN já sofreu um revés no Cade [Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência] quando quis fazer parte do capital da Usiminas e Tubarão [unidade da ArcelorMittal] não precisa da consolidação, é uma das usinas mais rentáveis do país."

   Fusões e aquisições geralmente se tornam mais frequentes e necessárias dentro de um mercado deprimido. No ano passado, o consumo aparente de produtos siderúrgicos, um indicador do Instituto Aço Brasil que agrega tanto produtos nacionais quanto importados, caiu 14,4%, para 18,2 milhões de toneladas, depois de já ter recuado 16,7% em 2015. Já são três anos consecutivos de retração, caindo 35% ante o pico observado em 2013.

   Mas, em vez de consolidação, o que se viu foi um setor mais fragmentado. Desde essa máxima de demanda por aço no país, a capacidade instalada cresceu em cerca de 4 milhões de toneladas, principalmente com a entrada em operação da fabricante de placas Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) - que destina a maioria de sua produção ao exterior -, mas também com usinas menores, como da mexicana Simec; a Aço Verde do Brasil (AVB), do grupo Ferroeste; e a Siderúrgica Latino-americana (Silat), da espanhola Hierros Añon.

   Para o especialista consultado pelo Valor, é aí que aparece a maior chance de consolidação. Simec, AVB e Silat estão envolvidas na produção de aços longos e, segundo ele, "têm rentabilidade muito baixa no mercado atual". "O que eu vejo é um potencial de consolidação dos entrantes menores, que sofrem muito em um mercado que esperavam estar muito melhor atualmente quando investiram lá atrás", disse. "Precisarão até se mexer para conseguir alcançar a nova Arcelor/Votorantim."

   Segundo a consultoria Dealogic, somando-se siderurgia e metais, foram movimentados apenas US$ 350 milhões no Brasil em 2016, 68,5% a menos do que em 2015. Foram 15 negócios no total, contra 14 no ano anterior. Só no primeiro semestre de 2017 até agora, o valor soma US$ 1,58 bilhão, com a compra da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da Thyssenkrupp, pela ítalo-argentina Ternium.

   Desde que se intensificou a crise no mercado interno, em 2014, foram US$ 3,04 bilhões em fusões e aquisições, contra US$ 20 bilhões na União Europeia.

   André Gerdau Johannpeter, presidente da siderúrgica gaúcha que leva o nome de sua família, lembrou a jornalistas na semana passada que o movimento de consolidação é um fenômeno global para o setor. Mas para ele, na China é que está o maior foco nesse sentido, sendo que no Brasil o ritmo ainda segue lento.

   No início do ano, antes dos negócios de Arcelor/Votorantim e Ternium/CSA, François Santos, sócio da consultoria A.T. Kearney no Brasil, disse ao Valor que hoje a siderurgia é menos visada em movimentos de consolidação porque não é mais tão considerada estratégica. A Inglaterra, por exemplo, desistiu de aço bruto e vai focar apenas em aços especiais. Excetuando-se China e Estados Unidos - este último com expectativa positiva por conta da postura protecionista do presidente Donald Trump -, o foco mudou para maior valor agregado.

   Essa menor importância foi observada mesmo nos EUA pré-Trump. No ranking de setores mais movimentados em fusões e aquisições, a produção de aço ficou em média abaixo do décimo lugar durante os últimos dois anos, mostra levantamento da firma de inteligência FactSet. Mesmo assim, percebe-se aumento no número de operações em 2016 sobre 2015, em 32% para 33 no total. O valor das transações, ao mesmo tempo, denuncia a relevância menor: queda de 6,5%, para US$ 1,3 bilhão.

   A conta desconsidera o ponto fora da curva de quando Warren Buffett pagou US$ 35,58 bilhões pela Precision Castparts - fabricante de produtos siderúrgicos, não aço bruto ou laminados.

   O mundo dispõe de capacidade em excesso em cerca de 800 milhões de toneladas atualmente, a maioria advinda da China. Por lá, o governo decidiu reduzir o parque em 150 milhões de toneladas até 2020 e está patrocinando a união de Baosteel e Wuhan Iron & Steel, o que formará uma siderúrgica capaz de concorrer de perto com a ArcelorMittal, líder mundial.

   "Não fizemos nada para resolver o excesso de capacidade em 2016", cravou em janeiro ao Valor o especialista em siderurgia John Lichtenstein, da consultoria Accenture. "Mas eu vejo a aparente intensificação dos esforços e da atenção dos chineses sobre a questão como muito boa", completou.

Fonte: Valor

© Todos os direitos reservados a A.N.R. Transportes Rodoviários Ltda. - Rua Marcos Arruda, 909 - São Paulo - SP - CEP 03020-000